Caminhos e consequências.
Em uma semana de compromissos, com episódios diários de chuva e com previsões climáticas de continuidade para os dias seguintes, a esperança de aproveitar algum dia ainda nesta semana se esvaiu.
Mas a tarde desta sexta-feira se manifestou diferente. O sol apareceu,
entre nuvens, mas apresentou uma tarde tranquila... Demais.
Decidi aproveitar,
mesmo que o clima mudasse, e me movimentar. Escolhi pedalar.
A ideia era por um passeio breve (o relógio mostrava 15h) e tranquilo
como a referida tarde.
Roupas leves, boné, óculos escuros. Calcei os tênis, peguei a “magrela”
a saí.
Segui até o outro lado da cidade, que não é grande, e enveredei por um trecho asfaltado que não demorou a se tornar uma
estrada de terra. Pensei em retornar, mas a vontade de movimentar o corpo, aliada à curiosidade de prosseguir por caminho que nunca
visitei, me impulsionou.
Munido de uma garrafa de água e de [excesso de] pensamentos, fiz a
melhor escolha pro meu dia.
Por despreparado e sem ritmo, o início do trecho foi terrível - apenas
subidas! Empurrei a bicicleta por uns bons trechos, começando a duvidar da
escolha que fiz por continuar. Já acreditando que nunca mais desceria (rs),
pensei com kung fu. Não era momento de assoviar enquanto chupava cana.
No momento em que apareceram trechos planos é que o "breve passeio" acabou...
Bem mais tarde, soube que pedalei muito, curioso em conhecer o que havia adiante. Fazendas e sítios, pastos e plantações, casas abandonadas, pássaros e bosta de vaca - área rural tem disso, rs.
"Pastidão" mineira. Campos de milho.
Alguns quilômetros à frente e cheguei a algumas placas artesanalmente confeccionadas.
Descobri ter percorrido mais de 21km e estar perto de outra cidade. Sentei ao lado da placa pra recuperar algum fôlego e preparar o psicológico. Teria que pedalar tudo de volta, antes de escurecer... Não pretendia passar a noite ali.
10 minutos de pausa, com sensação de que os músculos das pernas não queriam me acompanhar, rs. Não havia outro recurso: subi na bike e iniciei o retorno.
Foi uma “luta” com meu psicológico e com meu corpo. Senti, na metade do caminho de volta, a pressão sanguínea cair. Parei por três vezes pra estabilizar o fluxo e beber da água que estava no fim.
Ao começar a descer (a subida do início da empreitada) o esforço não
estava mais em pedalar, mas em segurar a direção para não cair ou bater em
curvas fechadas, ao desviar de galhos e cascalhos vários num terreno irregular enquanto o
guidão trepidava alucinadamente.
Em algum momento, entre desvios pra não me acidentar, vieram-me rapidamente à lembrança palavras de minha Si Fu, Líder da Família Moy Lin Mah, a Mestra Sênior Ursula Lima. Há momentos (e muitos) na vivência do Sistema Ving Tsun (Wing Chun) em que o cansaço nos assoma e a vontade de cessar os estudos pra descansar é enorme. Lembrei-me de ouvir: “André, é quando você não tem mais de onde tirar força que o kung fu começa a aparecer.” A afirmação procede, e não é restrita apenas ao Sistema Ving Tsun - considerando a amplitude do kung fu.
Próximo de casa, imaginei que não conseguiria entrar. Após descansar um pouco, pesquisei na internet pra saber o que fiz. Pedalei pouco mais de 42km e cheguei a uma altitude de 1.270m, próximo a cidade de Virgínia-MG. Muito pro meu despreparo. Fiquei preocupado.
À noite, dores incomodaram, e dormi pelo cansaço.
Este episódio me fez ponderar muito, redirecionou meus pensamentos. Mas compartilharei, em breve, noutra
postagem. Esse texto está bem longo, rsrs.
Assim relatou André Villarreal ‘Moy Yuet Mah’, membro do Conselho de Discípulos da Família Moy Lin Mah, juntamente com Rodolpho Alcantara, Helena Carneiro, Angela Carvalho, Fernanda Lima, Heitor Furtado, Vitor Barros e Marcus Souza.
Visite-nos em mykungfu.com.br
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